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quarta-feira, 16 de março de 2011

Mudar ou não mudar?

É muito comum que famílias inteiras se mudem de cidade porque o chefe da casa teve uma grande oportunidade de emprego. O fato é que hoje muitas mulheres passaram a ocupar o posto dito 'masculino' e, tanto quanto eles, buscam o sucesso profissional. No entanto, a figura do homem ainda é vista como um pilar e fazer a família se mudar porque a mulher recebeu uma proposta pode ser difícil. Afinal, será que eles estão dispostos a transformar suas vidas em prol do sucesso da companheira?


Ela em foco



Funciona da mesma forma. A família está toda estruturada em uma cidade: filhos na escola, casal empregado, vínculos afetivos. De repente, surge uma excelente oportunidade de trabalho em outra cidade, que vai aumentar consideravelmente a qualidade de vida. O lado financeiro deve compensar todo o esforço. No entanto, quando esse processo é protagonizado pela figura feminina, a situação parece ser administrada de maneira diferente.

Susan Guggenheim, psicanalista do Instituto de psicologia da UERJ, assume que atualmente existe uma grande possibilidade de que uma proposta profissional seja mais vantajosa para a mulher do que para o par, entretanto, a opinião do homem ainda tem muito peso: "Historicamente a nossa sociedade deu ao homem o lugar de provedor da família. As contingências políticas e econômicas o colocaram no lugar de comando e com poder de decisão".

Quebrar esse padrão pode gerar conflitos na relação. Tudo depende da personalidade do companheiro. "Como não existem regras e cada um vive a sua relação afetiva de um modo particular, pode acontecer de o homem ficar enciumado e reagir mal", conta a psicanalista. Ele pode reagir por crer que é o responsável pela provisão da casa.

A terapeuta cognitivo-comportamental Meire Lima recomenda ficar atenta aos valores que os dois, como casal, partilham. "Os casais devem aprender a identificar, questionar e modificar crenças e expectativas irreais em relação a seus parceiros", aponta a especialista. Mas valores pré-estabelecidos podem ser resultado do comportamento feminino. "Às vezes ela própria mantém o preconceito e não se sente confortável em contribuir mais do que o homem para as despesas do lar", revela Guggenheim.

O status de companheiro e incentivador da carreira profissional da mulher passa a um nível mais profundo quando o incentivo requer uma renúncia da própria carreira e, segundo Guggenheim, alguns homens conseguem, sim, desenvolver essa característica. "Ele poderá superar as dificuldades iniciais e se tornar um verdadeiro amigo na nova empreitada dela. Há homens que se orgulham do sucesso da mulher e acompanham o seu progresso, dando apoio e usufruindo dos novos ganhos profissionais e financeiros", conta.

Relacionamento à distância

E quando a proposta é irrecusável? Não dá para não aceitar e, ao mesmo tempo, o marido não pode largar a carreira. Neste impasse, alguns casais optam por embarcar em um relacionamento à distância. Além da saudade e da vida corrida, ambos agora terão que ter vínculos extremamente fortes para interpretar a situação de forma amena. "Não são os desafios que um casamento enfrenta que determinam seu sucesso ou fracasso, mas como os parceiros entendem e interpretam as atitudes do outro", afirma Lima.

Segundo a especialista, alguns comportamentos podem atrapalhar o bom relacionamento de um casal separado pela vida profissional. "Um dia a mulher está na reunião do novo emprego e não atende a ligação do marido, que pode interpretar de duas formas: ‘Ela já está se achando por cima' ou ‘Ela agora acha que não precisa mais de mim'. Suas emoções e seu comportamento podem não se adaptar à nova condição", ilustra.

Ser flexível e entender que, além dos desafios na vida pessoal, a mulher estará passando por uma nova fase na esfera profissional é o melhor nesse tipo de situação, revela Lima. "É interessante curtir esse momento. Conversar pelo telefone ou pela internet facilita que esse apoio seja mútuo", recomenda.

Mudança de país

O estudante de engenharia química Samuel Martinez tem experiência no assunto. Martinez conta que sua família saiu da Venezuela para o Brasil justamente por conta de uma grande oportunidade de emprego que sua mãe, Maria Auxiliadora, teve. "Meu pai tinha uma empresa de arquitetura e minha mãe trabalhava na PDVSA, na Venezuela. A situação política do país ficou muito difícil e ambos, juntos, preferiram arriscar vir para o Brasil, onde minha mãe tinha uma proposta de trabalho na Petrobras", narra.

O estudante, à época na 8ª série, afirma que a adaptação foi muito difícil, já que todos os amigos e familiares haviam permanecido na Venezuela. Outra situação agravou o processo: como a mãe era a única com um emprego fixo, apenas ela conseguiu o visto de trabalho e seu pai, Edgar, não poderia exercer nenhuma atividade no país, dependendo única e exclusivamente da renda dela. O pai aceitou e apoiou a decisão e a situação da família continuou dessa forma até o início desse ano. "Minha mãe recebeu uma excelente oferta de emprego, dessa vez na Colômbia. Por conta da rígida política com os estrangeiros no Brasil, meu pai consentiu mais uma vez com a decisão dela e em recomeçar a vida no novo país".

O apoio do pai nas duas decisões não surpreende Samuel. "Esse tipo de coisa acontece muito na Venezuela, devido à situação política do país. Muitos optam por arriscar tudo e recomeçar a vida em outro lugar. Eu não considero a minha família liberal", finaliza o estudante.

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